Movidos Pela Arte // Capítulo vinte e um

 Final de ano com uma surpresa especial

   Com o início das férias a Coffee Bean teve uma maior movimentação de cliente, suas novas bebidas quentes estavam fazendo sucesso naquele inverno, Belle estava se saindo bem em seu papel de subgerente e Sang não poderia estar mais satisfeito com a decisão que tomou.

   Em uma de suas folgas, Belle foi com Ji-ho passear pelo parque Yeouido, que era um lugar que ambos gostavam muito, havia nevado durante a noite e o parque estava completamente branco, o que dava a Belle uma sensação de pureza, as decorações de final de ano haviam começado, haviam alguma bolhas quase da altura dela espalhadas, dentro de cada uma delas uma cidade ou ponto turístico conhecido da Coréia do Sul que pareciam grandes globos de neve, as árvores estavam enfeitadas com luzes, haviam alguns bonecos de neve, que na verdade eram de algum outro material, isopor talvez? Que davam um charme onde quer que estivessem, as casas decoradas pareciam bolos festivos e em frente o letreiro I SEOUL U um grande trenó onde sentava-se o bom velhinho vestido de azul e um duende ajudante segurando um grande presente nas mãos e um grande saco vermelho atrás, as noves renas a frente, alinhadas tendo Rudolph na frente com seu nariz vermelho cintilando indicando o caminho.

   - É o seu primeiro natal longe da sua família né? – perguntou Ji-ho enquanto passavam por uma trilha enfeitada com pinguins.

   - Sim – respondeu.

   - Planejou algo? – perguntou olhando para o céu que começava a escurecer.

   - Os pais de Liza virão para a estreia dela na véspera de Natal e depois vão para a casa deles, ela me convidou para ir, mas vai ficar lá até dia 29 então provavelmente passarei com o Math.

   - Minha mãe convidou vocês para passarem lá em casa – disse – não é uma comemoração religiosa, mas gostamos de passar em família, Matheo será muito bem-vindo.

   - Não vou atrapalhar sua mãe? – perguntou Belle – ela deve ter bastante coisa para fazer, não quero ficar no caminho.

   - Que isso – ele deu uma risadinha – minha mãe vai começar a preparar as coisas que precisa deixar marinando ou em conserva e vai fazer uma pausa para irmos assistir a apresentação de Liza, depois vamos voltar para casa e preparar o restante das coisas – explicou – meus irmãos e eu ajudamos ela a arrumar tudo todos os anos, e aposto que dois pares de mãos extra a deixariam muito feliz, assim como uma comida italiana, sabe, pro caso de você querer preparar algo.

   - Se não for atrapalhar nós vamos sim – concordou por fim – pergunte a ela que horas posso chegar para ajudar e o que ela gostaria que eu preparasse que eu levo, ou dependendo do que for preparo lá.

   - Vou falar com ela e fazer a maior propaganda da sua lasanha e daqueles bolinhos de nome estranho.

   - Castagnoles Ji-ho – informou rindo – posso fazer os castagnoles para o café da manhã.

   - Já deu até água na boca – ele passou o braço por cima dos ombros de Belle e continuaram caminhando até que o frio ficou quase insuportável para ela, que era extremamente friorenta, então decidiram ir embora.

   Já em casa, sentada no sofá com um chá quentinho nas mãos, Belle se recordou dos natais com a mamma, geralmente com a presença de Math e a Sra. Esposito que eram parte da família, nunca passavam com os avós maternos, as vezes iam lá almoçar ou tomar café da manhã no dia de natal, mas nunca passaram a data inteira juntos. Nas poucas ocasiões que a mãe cogitava passar com os pais, falava para Belle e Nina irem para sua nonna, era fato de que ambas não gostavam muito do avô materno, embora fossem próximas das tias que tinham quase a mesma idade que elas, mas sabendo que as filhas não se sentiam confortáveis, a mãe nunca as obrigava a ir para a casa dos avós.

   - Acorda – Math jogou uma almofada em Belle a tirando de seus pensamentos.

   - O que foi? – disse virando para ele.

   - Ji-ho acabou de me falar que vamos passar o natal na casa dele.

   - Ah, sim – concordou – ele me disse hoje que a mãe dele nos convidou.

   - Você vai levar a lasanha da família Cestari? – perguntou com um olhar sugestivo.

   - Sim – respondeu – e estou pensando em fazer um pandoro também – disse pensando nas possíveis coisas que poderia levar.

   - Mas o pandoro é trabalhoso – ele franziu a testa – vai fazer na casa de Ji-ho ou aqui antes de irmos para lá ajudar?

   - Se não houver problemas para a Sra. Park faço tudo lá – disse olhando para Ji-ho.

   - Acho que ela não vai se importar, pode ser até que peça para ensinar as receitas – ele riu.

   - Math podia fazer a ministra maritata da sua mãe né – Belle sentiu água na boca só de pensar, a ministra da Sra. Esposito era diferente da receita original, mas era muito mais saborosa, diferente da receia original, ela tirara algumas partes menos nobres do porco e os ossos de presunto deixando apenas as carnes, o tempero, que era receita secreta, era o melhor que Belle já havia provado, seu sonho era conseguir chegar aos pés da ministra maritata da família Esposito.

   - Mas já não será servido uma sopa coreana na mesa dos Park? – perguntou e se virou para Ji-ho.

   - O tteokguk será servido só no ano novo – respondeu – agora vocês podem me explicar o que é pandoro? – a confusão estava visível em seu rosto – já entendi que a ministra é uma sopa.

   - Pandoro é um pão doce típico para o natal – Belle começou a explicar e ouviu Liza entrando com Myung – ele leva mais ou menos 6h de preparo, isso nas receitas atuais, é comum comer no almoço, na ceia ou no café da manhã de natal, mas está sempre presente.

   - Não acredito que você vai fazer pandoro – disse Liza sentando-se ao lado de Math – só porque não estarei aqui.

   - Posso fazer no ano novo também – garantiu ela.

   - Vocês vão passar oNatal lá em casa né? – perguntou Ji-ho – minha mãe convidou todos vocês para passarem as festas com a gente.

   - Vamos sim – disse Liza – caso tenha algumas pessoas a mais, vai ser problema?

   - Acredito que não – disse.

   Assim nos dias seguintes Belle procurou os ingredientes para os pratos que faria, deixou os legumes e carnes para comprar mais próximo da data para estarem mais frescos, e garantiu que tivesse tudo o que era necessário para a ceia com a família Park.

   No dia 23/12, Belle estava trabalhando, o café estava um pouco cheio então ela pulou a pausa que deveria fazer no período da tarde, deveria ligar para Nina nesse horário, mas mandou uma mensagem avisando que não conseguiria falar naquela hora e que ligaria sem fala quando estivesse saindo do trabalho.

   Ji-ho e Math estavam sentados em um canto do local conversando aguardando que ela saísse do trabalho, Liza estava no ensaio, que nos últimos dias tem sido ainda mais intensos já que a apresentação se aproximava, Ban-ryu havia saído com a mãe que tinha uma consulta médica, e os demais ou estavam trabalhando, ou ajudando nos preparativos do natal.

   Quando chegou o horário de ir embora Belle pegou o celular e ligou para Nina, porém o celular deu fora de área.

   - Estranho – comentou – Nina nunca fica sem bateria.

   - Às vezes ela está sem rede – sugeriu Math.

   Então eles seguiram para casa, parando apenas no mercado para que Belle comprasse as últimas coisas para as receias de natal que faria, quando estava quase chegando em casa seu celular tocou, na tela apareceu Cucca que era o apelido que havia dado a seu cunhado quando se conheceram.

   - Lucca, está tudo bem? – atendeu preocupada – não consegui falar com Nina quando saí do trabalho.

   - Está sim Belle – confirmou ele do outro lado da linha – ela estava no banho e esqueceu de carregar o celular.

   - Ah sim, posso falar com ela? – perguntou.

   - Ela está cuidando da Katie agora – Belle sentiu uma hesitação na voz dele.

   - Está tudo bem mesmo? – ela estava destrancando a porta para entrarem e ouviu um choro de fundo na ligação, mas o choro não parecia vir apenas da chamada.

   Antes que Lucca pudesse responder Belle entrou com a testa franzida, tirou o sapato tão rápido na entrada que quase caíra, e conforme foi tendo visão da sala seu coração quase explodira, primeiro viu um carrinho de bebê para gêmeos, então viu Lucca de pé ao lado segurando o celular e se virando para ela, e então viu Nina com Katie resmungando em seus braços procurando, faminta, o seio da mãe, então ela correu e pulou para abraçar o cunhado, depois se sentou ao lado de Nina dando um beijo em seu rosto, não a abraçou para que não atrapalhasse a amamentação, então percebeu que o pequeno Cristian estava dormindo tranquilamente no carrinho que, quando na posição horizontal parecia um bercinho, viu que as malas estavam no canto da sala abaixo da escada, e viu que haviam malas demais.

   - Vieram só vocês? – Perguntou olhando para as malas.

   - A nonna e o papà estão lá fora com a Liza e o Myung – respondeu Nina.

   - Por que não me avisaram que iriam vir?

   - Quisemos fazer uma surpresa – deu de ombros – Liza nos ajudou com tudo, e soubemos que a mãe do Ji-ho havia e convidado para passar o natal com eles então conversou com a Sra. Park que estávamos vindo e ela disse que adoraria passar o natal conosco e nos conhecer.

   - Eu amei a surpresa – ela passou o braço envolta de Nina e a puxou levemente para perto – como convenceram o papà e a nonna a virem?

   - Fácil – disse Lucca – sua vó estava morrendo de saudade de você e arrasou seu pai junto porque ele não ia passar o natal sem a família dele.

   - Uau – falou impressionada, então olhou a cara de Ji-ho, que não estava entendendo muito da conversa – Vocês o conheceram nas chamadas de vídeo, mas nada melhor que pessoalmente – ela esticou a mão e Ji-ho a segurou – esse é o meu namorado.

   - Ele é bem mais bonito que por foto – disse Nina sorrindo para ele – tadinho, não a entendendo nada né?

   - Não – as duas riram da cara de confusão, e Belle traduziu a conversa – Você precisa aprender italiano, e vocês – se virou para a irmã e cunhado indo do coreano para o italiano com facilidade – precisam aprender coreano.

   Nesse momento Liza entrou com seu pai, que era alto e moreno, cabelos pretos bem curtinho, magro, olhos castanhos, Belle parecia um pouco com ele, sua nonna era um pouco mais baixa que ela, cabelos igualmente pretos, lisos, tão branca quanto a neta, e embora já tivesse certa idade, era uma mulher muito bonita, ao ver Belle seus olhos castanhos iguais aos do filho brilharam, Belle se levantou e abraçou sua avó e todos no ambiente puderam sentir o amor que sentiam uma pela outra, com o pai ela hesitou, parecia que um muro invisível estava entre eles, o abraço foi curto e bem rápido.

   Todos se acomodaram na sala e ficaram algumas poucas horas conversando, Belle servia de intérprete para que Ji-ho entendesse o que lhe falavam e para que a família entendesse o que ele respondia, Belle pegou os gêmeos no colo e sentiu que segurava em suas mãos uma parte de seu próprio coração.

   - Quanto tempo vão ficar? – perguntou Belle com o pequeno Cristian nos braços.

   - Vamos embora dia 27 – respondeu Nina – Iremos passar o ano novo com os pais de Lucca.

   - Ah – ela ficou triste por ter tão pouco tempo com a família – é justo – reconheceu.

   Quando se aproximava das 00h, sua família informou que iria para o hotel, que não era longe dali, haviam reservado os quartos assim que compraram as passagens, então Myung e Ji-ho os levaram até lá para descansarem, os encontrariam na apresentação de Liza no dia seguinte e depois iriam juntos para a casa de Ji-ho.

   Assim que saíram Belle foi tomar um banho e foi na cozinha arrumar o que levaria no para cozinhar no dia seguinte, o café estaria fechado no final de semana para a data, então ela iria cedo ajudar a Sra. Park e também para preparar as massas do pandoro e da lasanha, enquanto estava na cozinha Liza e Math foram preparar um chá e ficaram conversando.

   - Ainda não acredito que a sua avó veio – comentou Liza.

   - Você sabia que a Nina viria? – perguntou Belle conferindo os ingredientes do pandoro para guardar.

   - Não fazia ideia – garantiu – achava que os gêmeos eram muito novos para voar.

   - E são – disse Belle – mas acredito que Nina deve ter feito diversas consultas com o médico deles para ter certeza de que poderiam voar. Ela não teria vindo se o médico não liberasse.

   - O que me impressiona de verdade foi o seu pai ter vindo – disse Math – a cara dele na hora de falar com você, ranço – ele revirou os olhos – desculpa mana, mas eu não gosto do seu pai.

   - Ele veio obrigado – disse Belle ficando meio para baixo – a nonna deve ter brigado muito com ele para que ele viesse.

   - Você teria ficado triste se ele não tivesse vindo? – perguntou Liza com certa cautela trocando olhares com Math, sabiam que Belle ficava muito emotiva nas festas de final de ano por conta de sua mãe, e sua péssima relação com o pai só a deixava pior.

   - Ficaria – admitiu – mas acho que fico ainda mais por saber que ele está aqui contra a vontade dele – Belle agora organizava os ingredientes da lasanha, estava de costas para os amigos – sabe, ele não querer fazer parte de alguma coisa só porque estou presente me magoa muito mais do que a ausência dele de fato.

   - Vamos esperar que amanhã ele se comporte bem e não te desmereça porque a Nina está aqui – disse Math – se ele fizer isso eu vou ficar muito puto com ele.

   - Não vai ser só você – disse Liza – todos nós vamos.

   - Você não ia para a casa dos seus pais depois da apresentação? – perguntu Belle virando-se para eles.

   - Decidi que vou ficar por aqui e no dia 25 de manhã vou para lá – esclareceu levantando-se para lavar a xícara – acabou que eles não vão conseguir vir.

   - Ah, que pena que eles não virão – disse Belle.

   Belle começou a guardar os ingredientes da ministra que Math iria preparar. Organizou todos eles em uma caixa térmica para que não estragassem até chegarem a casa de Ji-ho, e assim que terminou a tarefa os três subiram e ficaram no quarto de Belle jogando uno até as 3h da manhã, então Liza foi para seu quarto deixando ela e Math sozinhos, que pegaram no sono pouco tempo depois.

   No dia seguinte Liza foi cedo para a companhia pois tinha o último ensaio antes de irem para o teatro, Ji-ho buscou Belle e Math às 9h30 para que ela tivesse tempo de preparar tudo, chegando lá a casa parecia um bolo natalino, daqueles que as famílias fazem juntos, em formato de casa com todas as decorações natalinas, estava claro, mas Belle imaginava que ficara lindo a noite, já do lado de dentro parecia uma verdadeira força tarefa, Belle se lembrou do livro de Harry Potter quando todos tentavam transformar a residência da Sra. Black um lugar habitável para a Ordem da Fênix, todos faziam alguma coisa, o pai de Ji-ho estava reorganizando a sala de forma que acomodasse os novos convidados, Jonnie estava dando uma última limpada nas estruturas, já Hyunjin ajudava o pai no que era pedido.

   Na cozinha, Sra. Park preparava os temperos que iam nos assados e organizava o que precisava, Belle percebeu que ela estava sozinha e perguntou o motivo a Ji-ho bem baixinho.

   - Ela prefere cozinhar sozinha – explicou cochichando – diz que somos devagar demais e atrapalhamos ela.

   - Parece alguém que eu conheço – disse Math baixinho acompanhado por um risinho.

   - Olá Sra. Park – disse Belle a fim de acabar com aquela zoeira de Matheo – precisa de ajuda aí?

   - Belle – foi em direção a ela e deu um abraço – fique tranquila, Ji-ho disse que você fará algumas coisas bem trabalhosas também.

   - As massas precisam descansar e nesse tempo posso ajudá-la – disse com disposição a ajudar.

   - Bem, algumas mãozinhas me cairiam bem aqui – admitiu – mas sabe, a companhia é a melhor parte – sorriu – separei dois aventais para vocês e deixei a bancada livre para você trabalhar nas massas a vontade.

   - Muito Obrigada – ela se curvou em agradecimento, pegou o avental e começou a arrumar os ingredientes na ordem que iria precisar.

   Ji-ho estava parado de braços cruzados observando junto com Math Belle e a Sra. Park trabalhando, embora estivessem fazendo coisas completamente diferentes, eram muito parecidas quando se tratava de cozinhar.

   - Da até medo – disse Ji-ho.

   - Dá mesmo – concordou Math – Cuidado, pois Belle vai te expulsar com frequência da cozinha.

   - Eu sei ser insistente – riu ele.

   - Math você não precisa se preocupar com ministra agora então pode procurar algo para fazer até lá – embora Math estivesse falando coreano muito bem, Belle falou com ele em italiano e olhou para ele com um olhar que ele conhecia, era o olhar de “Não me atrapalhe enquanto cozinho, porque se eu errar vai voar na sua cara como da última vez.

   - Pode deixar – falou antes de sair – eu sei bem o que esse olhar quer dizer.

   - O que? – perguntou Ji-ho.

   - Uma vez eu estava fazendo a comida para o natal, ia fazer o pandoro e ele insistiu em me ajudar, por mais que eu dissesse que prefiro ficar sozinha, então ele fez com que massa desandasse, então joguei a massa nele – ela falou com muita calma e ouviu a risada da Sra. Park.

   - Dentro da forma – retrucou ele – ela jogou a massa junto com a forma.

   - Mamãe já fez isso comigo – disse Ji-ho – mas foi com a conserva de Kimchi que ela estava preparando e eu a distraí e ela colocou um tempero errado – ele fez uma pausa e viu a expressão idêntica no rosto da mãe e namorada – já estamos saindo – e puxou Math para fora da cozinha.

   Belle e Sra. Park se concentraram nos seus afazeres em silêncio e harmonia, e enquanto a massa do pandoro descansava Belle fazia o que podia para ajudar a Sra. Park. Assim como tudo que fazia, ela estava de fones ouvindo sua playlist de músicas favoritas, e no momento em que colocava a manteiga na massa e fazia a primeira dobra antes de levar a geladeira tocou a música Storm da banda Lifehouse, essa música a fazia lembrar de sua mãe, da força que ela lhe dava e da força que precisou ter depois de perde-la.

   - Deve ser muito difícil passar essa época do ano sem ela – Falou Sra. Park ao perceber a emoção de Belle – ainda mais em um lugar novo longe de casa.

   - É um pouco sim – respondeu Belle – a mamma adorava o natal, dizia que nada era mais significativo do que ter aqueles que ama por perto, ela gostava de presentear as pessoas, era quase a mamãe Noel de Génova – Belle estava encostada no balcão, estava de frente para Sra. Park e seus olhos se encontraram, dando a ela uma grande sensação de acolhimento e conforto – já o ano novo ela dizia que era o período de renascimento, dizia que a cada novo ano nascíamos de novo, com novas chances de errar e aprender, de fazer nossos sonhos se tornarem realidade, de nos livrarmos das mágoas, de nos libertarmos – ela deu um sorriso – mamma era muito filosófica de vez em quando, e eu aprendi muita coisa com ela nesses momentos.

   - Sua mãe deve ter sido uma pessoa incrível – disse com um sorriso, bem parecido com o Ji-ho – eu teria adorado conhecê-la.

   - Ela ia gostar muito da Sra. Também – disse rindo – ela também nos expulsava da cozinha quando estava cozinhando.

   - Gosto de pessoas ágeis na cozinha – disse – e os meninos, eles são ótimos, exceto quando entram aqui.

   - Entendo – as duas caíram na risada e prosseguiram com suas receitas.

   Mais tarde, por volta das 15h todos se prepararam para irem ao teatro assistir a apresentação de Liza com a companhia de dança, eles iriam apresentar uma releitura de o Quebra Nozes, que era um clássico natalino, e Liza seria a dançarina principal.

   A apresentação tinha muitas características do Balé clássico original, mas a adição dos passos de dança contemporânea deixou O Quebra Nozes com um toque mais moderno, a orquestra estava impecável, e depois da companhia de dança, alguns grupos famosos fariam apresentações de músicas natalinas clássicas. O pequeno festival acabou por volta das 19h da noite e todos apreciaram.

   - Liza dança muito bem mesmo – disse Lucca para Belle quando iam para a casa de Ji-ho que era perto dali.

   - A melhor bailarina que conheço – disse Belle sorrindo para a amiga.

   Chegando lá, Belle e Sra. Park voltaram a cozinha para terminar de preparar seus pratos, Nina aproveitou que os gêmeos estavam dormindo e foi ajudar, assim como Math que já iria começar a preparar a ministra, os demais foram organizar a mesa para a ceia, que seria feita na área externa da casa que estava decorada para eles aproveitarem a noite, que embora fria, exibia um céu completamente limpo e estrelado.

   Quando estava quase tudo pronto, todos se sentaram na sala, Sra. Park preparou gemadas, com e sem álcool para eles tomarem enquanto conversavam e aguardavam os últimos pratos de suas refeições, Belle se sentou entre Ji-ho e Nina segurando a pequena Katie que estava acordada.

   A família de Ji-ho fazia a ceia a 00h por tradição, e jogavam vário jogos de tabuleiro até o horário de se sentarem a mesa, no momento eles jogavam uma versão de Monopoly, e todos estavam se divertindo, e chegado o momento da ceia, Sr. Park fez um agradecimento a todos ali presente e algumas outras coisas, e convidou a todos a falarem se desejassem, e Belle se surpreendeu ao ver que seu pai iria falar.

   - Primeiro – ele olhou para Belle pedindo para que ela traduzisse – desculpas por não falar uma língua que possam me entender – e riu – Quero agradecer a vocês por nos receberem nessa noite, viemos de longe para poder estar com nossa pequena Belle – ele fez uma pequena pausa, Liza e Math trocaram olhares tensos e pareciam prender o ar – essa sempre foi uma data especial para nossa família, e sempre passamos ela juntos, seja na ceia ou na manhã de natal, e não queríamos que esse ano fosse diferente, minha caçulinha está longe de nós perseguindo seus sonhos e encontrou aqui uma família acolhedora e amorosa, agradeço a vocês por cuidarem da minha menina – ele olhou para ela e Belle percebeu que ele estava chorando – filha, eu sei que o papà é frio com você, e não pareço muito afetuoso, isso é porque você me lembra sua mamma, que eu amei mais do que qualquer outra mulher na vida, você não tem culpa nenhuma do que aconteceu, e por isso eu te peço desculpas – Belle já não traduzia mais, Liza o fazia por ela – saiba que eu tenho muito orgulho da mulher que você se tornou, tenho orgulho por você ir atrás do que quer, mesmo que isso lhe custe começar tudo de novo em um lugar distante, você é minha menininha e eu te amo muito – ele abaixou a cabeça e passou a mão nos olhos para limpar as lágrimas que escorriam pelo rosto – obrigada a vocês duas por me tornarem o pai mais feliz desse mundo – ele saiu de seu lugar e foi na direção das filhas que estavam lado a lado e as abraçou.

   - Eu amo essa época do ano – suspirou Math.

   - Sra. Cestari – disse Sra. Park e novamente Belle traduziu a conversa – sei que sua família é religiosa, a Sra. Gostaria de fazer uma oração?

   - Claro – então Rosie Cestari iniciou uma oração, primeiramente agradecendo o alimento e pelas pessoas ali presentes, agradeceu pelos laços criados e os fortalecidos, agradeceu a dádiva da vida e em seguida fez a oração do Pai Nosso e Ave Maria, então todos se sentaram para comer.

   Belle olhou em volta da mesa, com sua família, a família de seu namorado, seus melhores amigos, seus sobrinhos e cunhados, e se sentiu extremamente grata por todos a sua volta.

   Após a ceia voltaram aos jogos de tabuleiro até altas horas da madrugada, sua família dormiria na casa dos Park, pois tinha quartos suficientes para todos, e na manhã seguinte Belle e Nina prepararam castagnoles para o café da manhã, que a família de Ji-ho adorou.

   - Acho que vou convidar Belle para minha cozinha mais vezes – disse Sra. Park rindo – quero as receitas em.

   - Pode deixar Sra. Park.

   Após o café da manhã Liza pariu para a casa dos pais, Belle almoçou com a família de Ji-ho e voltou para casa por volta das 17h na companhia da família, no dia 26/12 Liza a levou em um tatuador conhecido e muito talentoso que marcou na pele de Belle o quadro que fez da Whale 52hz em sua avaliação e um desenho com um menino de camiseta com listras azuis e uma única rosa, e uma menina de laço azul no cabelo com camiseta cheia de corações roxos, estavam sentados frente a frente com as pernas esticadas e os pés quase se tocando, com uma borboleta sobrevoando entre eles. Antes de perceber o dia 27 havia chegado e a família de Belle estava partindo para Génova.

   - Te ligo assim que bater 00h aqui – disse Belle abraçando Nina no aeroporto após o trabalho, pouco antes deles embarcarem.

   - Espero que você possa ir nos visitar logo – disse Lucca abraçando a cunhada – e precisamos agendar o batismo dos gêmeos.

   - Podemos batizar nas próximas férias da KNUA – disse Belle – eu vejo se consigo folga no café.

   - Depois conversamos certinho para agendar – disse Nina – temos que ir se não perdemos o voo.

   Belle de um abraço forte em sua avó e depois um abraço em seu pai, que ao contrário do abraço da chegada, esse foi aperado e demorado.

   - Ti amo piccola mia – disse seu pai fazendo carinho em seu cabelo curto – você fica bem com esse cabelinho – e deu um beijo em sua testa – se cuida filha.

   - Vocês também – disse – por favor me avisem quando chegar.

   Então eles partiram, deixando Belle com mais saudade que antes, porém agradecida pela oportunidade de passar o natal com sua família e amigos em seu novo lugar.

   Na última semana do ano, houve pouca movimentação na Coffee Bean, e devido isso, Sang resolveu que faria uma pequena confraternização com os funcionários do café no último dia de trabalho do ano, por conta do chefe.

   Então o café fechou mais cedo no dia 30/12 e eles foram a um bar restaurante, não muito longe, e pediram diversas porções e bebidas para tomarem, Sang encheu o copo de cada um deles com soju e fez um brinde.

   - Quero agradecer o trabalho duro de todos vocês no decorrer desse ano – começou ele – obrigado por fazerem da Coffee Bean um lugar de conforto para aqueles que nos procuram, e espero muito ter todos vocês comigo novamente no próximo ano.

   - Obrigada senhor – disseram os funcionários em uníssono e beberam.

   Sr. Sang tratava todos como um verdadeiro pai coruja, cuidava e se preocupava com cada um dentro e fora do trabalho, a Coffe Bean era uma família, e isso só era possível pelo amor e dedicação de Sang pelo lugar e pelas pessoas que estavam com ele, e pelo amor e consideração que todos tinham por aquele senhor.

   Chegando em casa, após a confraternização com os colegas de trabalho, Belle foi arrumar as coisas para a pequena viagem de ano novo, ela iria com Liza, Myung, Math, Ban-ryu e Ji-ho para Jeju, ficariam na casa da família de Ban-ryu que era na beira da praia e tinha uma piscina coberta e de água quente enorme, de acordo com ele. Sairiam as 8h de casa para chegarem bem cedinho e preparar as coisas, pois fariam um churrasco para comemorar a passagem do ano.

   Todos dormiram na casa de Belle e Liza, assim na manhã seguinte saíram todos sem nenhum problema, comeram algo no caminho do aeroporto e chegaram a Jeju antes das 10h30 da manhã, passaram em um mercado e seguiram para a casa guardando tudo e saindo para dar uma volta na beira da praia e almoçaram em um restaurante que tinha lá perto, que foi indicado pelo pai de Ban-ryu.

   Já a noite eles prepararam as coisas para o churrasco, separaram as bebidas, as carnes, Belle fez um pão com creme de alho e queijo que ficou muito gostoso, jogaram uno, mímica, forca, jenga e eu nunca enquanto comiam e bebiam.

   Conforme a meia noite foi chegando eles resolveram ir até a praia para ver a pequena queima de fogos feita pelos moradores daquela região, estava frio, mas isso não impediu Belle de retirar os sapatos e molhar um pouco os pés nas ondas gélidas, a noite trazia um céu livre de nuvens e uma lua nova que combinava perfeitamente com a ocasião, Belle encarou a noite, seu casaco que descia quase até os pés voava com o vento, e ela se perdeu ainda mais em pensamentos, pensou em como sua vida havia mudado no último ano, Belle saíra de um relacionamento abusivo, conquistara uma bolsa de estudos em outro país, mudou de visual e se mudou, fez novos amigos e conheceu alguém que a fazia feliz como nunca se sentiu na vida.

   Esse foi o ano de maior mudança na vida de Belle desde a perda de sua mãe, e depois de todas essas mudanças, sentiu que ali era seu verdadeiro lar, com seus amigos, sua melhor amiga, e seu novo amor, que mesmo se o relacionamento acabasse, o que ela duvidava pois amava Ji-ho como nunca amou ninguém na vida, a amizade entre eles prevaleceria, Génova era o seu berço e ela o amava de todo coração, mas a Coréia era o seu verdadeiro lar, então os fogos começaram, seus amigos se aproximaram maravilhados com a queima de fogos, deram um abraço coletivo e depois Ji-ho a puxou pela cintura a colocando na sua frente, de costas para ele, ela virou o rosto recebendo um beijo carinhoso, então Belle renasceu, como diria a mamma, ela riu do pensamento, e finalmente foi feliz. 

Comentários

  1. Eu simplesmente amei acompanhar está história!♡♡♡♡♡

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    1. Fico muio feliz que tenha gostado de acompanhar a história de Belle, logo trarei algumas novidades.

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